Música evangélica: entretenimento para os Homens ou instrumento para a evangelização?
Desde a antiguidade, povos e civilizações tem usado a música como uma forma de manifestação e expressão apresentada de várias formas e com diversas funções: prestação de cultos à entidades divinas, a celebração de momentos importantes como a colheita, o nascimento, a morte, para espantar a tristeza, esquecer a fome, como forma de luta contra regimes opressores, mas também como forma de entreter as pessoas, entre muitas outras funções.
Na história bíblica, podemos também observar que a música também exerceu um papel extremamente importante na vida daqueles que se propuseram ser seguidores do Deus dos hebreus, temos vários exemplos disso.
Depois que os egípcios pereceram no Mar Vermelho, Moisés juntamente com os filhos de Israel, levantaram um cântico de agradecimento e engrandecimento à Deus pelo livramento que acabavam de vivenciar (Êxodo 15. 1-9) e logo a seguir sua irmã Miriam faz o mesmo usando tamborins e dançando (Êxodo 15. 20-22).
O rei Davi, grande rei Davi, o homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 13.14), era um adorador por excelência, usava os cânticos para expressar a tristeza e dor, o arrependimento, pedido de perdão à Deus, profetizar, louvar ao Senhor pelas bençãos, etc. Ele escreveu aquilo que viria a ser conhecido na Bíblia Sagrada como o livro de Salmos, termo este que provém do latim psalmus que designa uma composição que tem como objectivo principal louvar uma divindade (Salmos 19. 1-13).
Seu talento, dedicação e reverência à Deus, o levaram a construir mais de quatro mil instrumentos musicais (1 Crónicas 23. 5), com o intuito somente de exaltar o nome Daquele que vive eternamente e proclamar às nações o seu poder, a sua magnificência a sua misericórdia e o seu amor pela humanidade.
Indo mais adiante, no Novo Testamento, á quando da entrada do Senhor Jesus Cristo em Jerusalém, a multidão que seguia a diante Dele estendia as suas vestes e os seus ramos, cantavam e dançavam, se alegrando pela chegada daquele que acreditavam ser o Salvador dos judeus (Mateus 21. 8-9).
Etimologia
A palavra música tem origem no grego mousikê, que significa “arte das musas”.
Conceito
Música pode ser definida como arte e ciência de combinar harmonia, ritmo e melodia. Esta combinação é feita com objectivo de ser percebida pelo ouvido.
Música Evangélica
Por muito tempo, várias denominações cristãs entenderam a música como sendo algo do diabo, naturalmente por falta de entendimento da palavra de Deus, chegando até a proibir o uso de instrumentos musicais e/ou a apresentação de composições muito elaboradas, privilegiando quase que sempre os cânticos e hinos escritos nos hinários oficiais que cada denominação adoptou ao longo do tempo. Este pensamento deve-se maioritariamente ao facto de que o diabo e os seus agentes, ao longo da história da humanidade, tem vindo a fazer maior e melhor uso das ferramentas de música tais como instrumentos musicais e composições para lograr os seus intentos e cumprir a sua agenda.
Talvez porque a Bíblia nos ensina muitas vezes a sermos recatados, reservados e mansos, muitos líderes entendem esta mensagem como sendo uma instrução para não expressar sentimentos, pensamentos ou adoração à Deus de forma emotiva e/ou espalhafatosa, mas sempre de forma muito ponderada e mansa, mesmo quando se trata de cantar, dançar ou através de outras representações artísticas.
Contudo, a Bíblia mostra o rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, como um grande adorador, um grande cantor, um grande instrumentista, dançando e se alegrando diante de Deus com todas as suas forças, literalmente "se acabando" como se diz na gíria popular, tendo sido criticado por sua esposa Mical, que a posterior veio a ser estéril por tal crítica ao seu esposo, o rei de Israel, que dançava e se alegrava diante dos seus servos, em manifestação da alegria que sentia por a arca do Senhor ter voltado, pois ela representava a presença de Deus no meio do seu povo (2 Samuel 6. 14, 16, 20-23).
Funções dos cânticos
i. Louvor e Adoração à Deus - o enfoque dos cânticos que se enquadram nesta categoria é exaltar o poder, o governo, a soberania e os atributos de Deus ( Salmos 33; Romanos 11. 33; Apocalipse 19. 5);
ii. Lamentações - expressar a necessidade do socorro de Deus diante de aflições, tribulações e inquietações, que podem ser individuais ou colectivas (Salmos 118.25; 2 Crônicas 20.22);
iii. Acções de Graça - a expressão da gratidão á Deus pelos seus diversos feitos na vida individual e não só, por livramento, pelo seu Amor, pela sua misericórdia, pelo seu perdão, pelo seu socorro, enfim, por uma infinitude de coisas(1 Crónicas 16.34; Romanos 11.36);
iv. Exaltar os feitos dos Homens de Deus - Homens que se destacaram por suas obras e obediência á Deus, culturalmente, eram homenageados através de cânticos ( 1 Samuel 18. 6-7);
v. Buscar forças para iniciar uma jornada - a boa disposição, a adoração, o bom ânimo, a consciência conectada com Deus e a fidelidade á Ele, são algumas das peças chave que o crente precisa para permanecer em pé diante de qualquer caminhada que deseja empreender ( Salmos 120);
vi. Busca pela sabedoria - o conhecimento das instruções quanto á vontade de Deus para os Homens, o conhecimento de orientações práticas para a vida do crente neste mundo ( Salmos 1)
vii. Invocar a justiça divina contra os inimigos do povo de Deus ( Hino Evangélico, Marca da promessa, Fernandinho)
viii. Para pedir perdão, para expressar confiança (Hino Evangélico, Filho Pródigo, Autor Desconhecido).
Música evangélica: entretenimento para os Homens?
A palavra do Senhor O descreve como um ser perfeito, sem defeitos, que é adorado de dia e de noite por anjos no céu (Apocalipse 5. 11-12), entre outros versículos relacionados, ela exorta também aos seus filhos: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial." (Mateus 5. 48), talvez por isso muitos líderes cristãos e fazedores da música evangélica, entendam que composições cujo objectivo é exaltar a Deus, devam ser perfeitas, tanto na composição bem como na execução. Afinal de contas, estamos diante de um ser perfeito, misericordioso, cheio de amor e que merecem o melhor de cada um de nós.
É cada vez mais comum nos dias que correm, presenciarmos nos concertos e eventos musicais evangélicos, bem como nos cultos, a execução perfeita das composições suplantar a exaltação e glorificação do Senhor dos exércitos, há muito mais preocupação em alimentar o ego dos executores e a comichão dos ouvintes, do que realmente adorar à Deus, como dizia o amado irmão Lázaro, há muito mais "show" do que louvor hoje em dia na casa do Senhor, a preocupação é apresentar um louvor perfeito para os ouvidos dos Homens sem olhar para os padrões de perfeição de Deus.
As vozes, os dedos ou instrumentos bem como as danças têm servido mais para exibir os talentos e dotes individuais, em detrimento de ser Deus o centro das coisas, apostamos em ritmos cada vez mais dançante e ousados, em busca dos aplausos, do reconhecimento próprio, da fama, do aparente prestígio e nos esquecemos de dar a glória a quem é devido.
Aí você questiona: então devemos apresentar louvores e canções com pouca ou sem estética alguma só porque é para Deus?
De forma alguma. Ele é perfeito, Ele merece o melhor de nós e de facto, esta tarefa de louvar á Deus através do canto e toque de instrumentos, é claramente atribuída à uma tribo específica de Israel, a tribo de Levi, era a responsável por conduzir os cultos de louvor ao Senhor, eram os sacerdotes e cantores, que Deus separou para a obra dele, pelo que, ainda hoje, temos no meio da igreja de Cristo, pessoas separadas para o louvor e adoração à Deus, estes devem sim buscar aprender técnicas para aperfeiçoar seu dom, obviamente que todo aquele que se diz filho de Deus pode e deve louvar à Deus, contudo estas pessoas à quem me refiro, têm a função de aproximar as pessoas à Deus, levar mensagens de conforto, força, fé e perseverança, através da combinação entre harmonia, melodia e ritmo.
O problema surge, quando o foco desta adoração já não é Deus, mas o ego humano.
Música evangélica: instrumento de evangelização
Certa vez, ouvi um pregador dizendo que o evangelho é na verdade uma notícia boa demais para ser verdade, que no período intertestamentário (o intervalo de 400 anos entre Malaquias e Mateus), era exatamente o que representava a chegada do Senhor Jesus, o povo oprimido aguardava pela chegada de um redentor, então, evangelho é a boa notícia que o povo esperava.
O Apóstolo Paulo define perfeitamente o evangelho e diz que: "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Romanos 1.16).
Isto nos dá uma perspectiva clara sobre o nosso papel como igreja de Cristo: dar a boa notícia ás almas perdidas de modo que reconheçam a majestade e se rendam ao Criador dos céus.
Qualquer dom (material ou não), habilidade ou capacidade que possuímos, deve ser usada para glória de Deus ( 1 Coríntios 10.31).
Não quero com isso dizer, que não se pode apostar na perfeição das composições que fazemos para adorar a Deus, de forma alguma, porém a intenção com que fazemos tais composições e execuções (melismas, apogiaturas, dissonantes, solos super agudos), é que fará toda a diferença, pois de nada vale impressionar aos Homens se Deus que é o objecto, o alvo, o centro, o dono não for alcançado pela nossa música.
Jesus Cristo foi um exemplo claro de humildade, não olhava a estrato social, condição financeira, não buscava glória para si, era uma pessoa que "se misturava", à tal ponto de ser necessário Judas o beijar (Mateus 26. 48-49) diante dos soldados no Jardim Getsêmane para o poder identificar (coisa maravilhosa!!).
Pelo que, devemos aprender dele, vigiando para que não possamos subverter o verdadeiro objectivo do louvor na casa de Deus ou entre os seus: a exaltação de Deus, que nos aproxima dele e uns dos outros.
Conclusão
Naturalmente que não poderíamos de forma alguma esgotar este assunto neste artigo, pois há muito que se possa falar sobre mesmo, contudo, abre-se aqui espaço para reflexão e introspecção, principalmente os líderes do louvor e os "levitas".
O show e o espectáculo agradam mais ao Homem, satisfazem ao ego Humano, mas o coração quebrantado, humilde, é o que agrada à Deus (Salmos 34.18; Salmos 51. 10; 1 Timóteo 1.5).
Vamos sim, aprimorar nossas vozes, nossos dedos e nosso corpo através da técnica e ao mesmo tempo encher nosso interior da Palavra de Deus, vigiando em oração para não nos esquecermos que o centro, o foco de tudo deve ser sempre Deus.
Bênçãos
Por: Solange Hobjana
GospelMahungu
pelo progresso do gospel
Que Deus ajude aos ministros de louvor a lembrar sempre que o adorado é Ele, Deus nós apenas somos vasos.
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